quarta-feira, 26 de março de 2008

Me dê noticia de você
Eu gosto um pouco de chorar
A gente quase não se vê
Me deu vontade de lembrar
Me leve um pouco com você
Eu gosto de qualquer lugar
A gente pode se entender
E não saber o que falar
A gente quase não se vê
Eu só queria me lembrar
Me dê noticia de você
Me deu vontade de voltar
Chico Buarque - Cadê Você? (Leila XIV)
É auto-explicativo. Vou mas volto.

segunda-feira, 24 de março de 2008

sobre rotina

Ultimamente uma sede por leituras me toma a mente, sempre que me pego distraída. Quero ler tudo, e todos. Ler cada momento, cada olhar, cada faceta dessa vidinha ora mágica, ora traiçoeira. Os livros, como os quero devorar sem medo, sem repreender-me. Mas a minha razão, triste razão, não permite que eu largue tudo o que me mantém ligada ao mundo ao qual me relaciono. As tarefas, malditas tarefas. Provas, provam o quê? Provam somente o quanto eu deixei de fazer o que quero para me dedicar a coisas que talvez eu nunca mais utilize. Oras, eu dizendo isso? Justo eu, quem tem estudado assiduamente? Pois é, José. Vou indo correndo buscar meu lugar no futuro (e você?). Mas isso são outros quinhentos.
Perdi-me em devaneios. Perder. Perder-se em cabelos, cheiros, curvas, pêlos, mãos, olhares, abraços. Intensidade, que falta ela me faz. Acordar, ir à aula, prestar atenção, conversar, voltar para casa. Nada de diferente. Nada de novo. Eu, sempre apaixonada pela rotina, me canso dela tempo em tempo. Não reclamo. Gosto de acordar, ir à aula, prestar atenção, conversar e voltar para casa. Mas falta algo. Alguém (ele). Não, não é ele quem me falta. É alguém que faça o que ele fazia, faça o que ele fazia maravilhosamente bem.
E não há nada mais verdadeiro que isto (embora eu o quisesse citar no post que eu prometi dedicar ao amor... Tanto faz.):
Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia nossa.
Fernando Pessoa
E aqui me despeço, cansada de muitas coisas. Acredito que o que me mantém respirando é essa raiva tamanha que me consome dia após dia. Como é bom... Depois volto.

segunda-feira, 17 de março de 2008

sobre a ausência

(...) Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade.
Vinicius de Moraes - Soneto de Contrição
Nunca descordei tanto do poetinha vagabundo como descordo agora (e que fique bem claro, até ontem eu ainda concordava). Pode-se dizer que se não há ausência não há presença, mas pombas, como a ausência dói. Fica aquele vazio que te consome e corrói, entra pela sua corrente sanguínea e dilui tudo o que te mantém respirando...
Só o que se sabe é da sede pelo cheiro, pelo toque, pelo hálito, pelo êxtase já antes sentido. Tudo conspira para que a ausência se faça presente, tudo colabora com a sua angústia, ainda mais quando não se tem ninguém. Acompanhada, pensa-se em qualquer outra coisa. Às vezes, se está muito ocupada até para pensar. Mas quando todos se vão, tudo aquilo volta. O quanto você está sozinha, o quanto aquilo tudo te faz falta, e o quanto você é indubitavelmente idiota por ainda pensar nele.
Estou tão cansada... Nunca estive mais sozinha, nunca. E ainda todas as coisas aqui em casa.
Será que volto? Uma ótima noite.

segunda-feira, 10 de março de 2008

sobre algo

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo;
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho...
Pablo Neruda - Soneto XVII
Disseram-me sobre ele... Alguém chuta quem foi?
Por hoje é só. AT amanhã. Santa Carol.

terça-feira, 4 de março de 2008

sobre o hoje

Caos. É assim que tudo se resume no momento. E, diga-se de passagem, nunca me senti mais sozinha do que me sinto hoje. Não me sinto, estou. Não exatamente, totalmente. Mas quase. E este quase é preocupante. Apesar disto, estou bem. É. Bem. Não maravilhosa e super feliz, mas vou levando. Vou levando bem.
Só o que sinto falta, na verdade, é de emoção. De adrenalina, de tudo que eu tinha (que, não sejamos hipócritas, eu aproveitei bastante e dei muito valor). E é estranho pensar que se eu tivesse trocado um simples artugo eu estaria me referindo a ele e tudo o que ele implica (ou implicava). Engraçada essa Gramática, né? Aliás, venho pensando um pouco demais em Gramática (não perguntem).
Mas, voltando à emoção, é difícil explicar. Na verdade nem há necessidade, certo? Este é um dos únicos momentos da minha vida ordinária em que eu não sei do que preciso. Eu poderia até dar o meu parecer sobre isso, mas soaria insano. E é esta insanidade que me intriga, me apetece. A imprecisão da nossa capacidade de descrever sentimentos é enorme, nossa.
Bem, se fosse para eu dizer, eu diria que preciso dos cheiros. E das vozes, dos cabelos mau-penteados e das manias. Todas. Das poesias e das análises, e dos abraços (que devem ser bons). Mas eu sei que eu não preciso disso. Não eu. Sei que o meu lado infantil psicologicamente grita por alguma coisa que satisfaça as minhas carências, ele é quem precisa. Quanto à mim, não sei. A mente humana é primordialmente uma obra de arte. Como me fez isso?
PS: E, só para ajudar um pouco, o chico passou a controlar minhas necessidades glicêmicas e o meu humor, que já não era dos melhores.

Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva marcada a frio, e ferro e fogo em carne viva.
Chico Buarque - Tatuagem